Maria, Mãe de Deus
Theotokos - título criado pelos cristãos
A contemplação do mistério do nascimento do Salvador tem levado o povo cristão
não só a dirigir-se à Virgem Santa como à Mãe de Jesus, mas também a
reconhecê-la como Mãe de Deus. Essa verdade foi aprofundada e compreendida como
pertencente ao patrimônio da fé da Igreja, já desde os primeiros séculos da era
cristã, até ser solenemente proclamada pelo Concílio de Éfeso no ano 431.
Na primeira comunidade cristã, enquanto cresce entre os discípulos a
consciência de que Jesus é o filho de Deus, resulta bem mais claro que Maria é
a Theotokos, a Mãe de Deus. Trata-se de um título que não aparece
explicitamente nos textos evangélicos, embora eles recordem “a Mãe de Jesus” e
afirmem que ele é Deus (Jô. 20,28; cf. 05,18; 10,30.33). Em todo o caso, Maria
é apresentada como Mãe do Emanuel, que significa Deus conosco (cf. mt.
01,22-23).
Já no século III, como se deduz de um antigo testemunho escrito, os cristãos
do Egito dirigiam-se a Maria com esta oração: “Sob a vossa proteção
procuramos refúgio, santa Mãe de Deus: não desprezeis as súplicas de nós, que
estamos na prova, e livrai-nos de todo perigo, ó Virgem gloriosa e bendita”
(Da Liturgia das Horas). Neste antigo testemunho a expressão Theotokos, “Mãe de
Deus”, aparece pela primeira vez de forma explícita.
Na mitologia pagã, acontecia com freqüência que alguma deusa fosse
apresentada como Mãe de um deus. Zeus, por exemplo, deus supremo, tinha por Mãe
a deusa Reia. Esse contexto facilitou talvez, entre os cristãos, o uso do
título “Theotokos”, “Mãe de Deus”, para a Mãe de Jesus. Contudo, é preciso
notar que este título não existia, mas foi criado pelos cristãos, para exprimir
uma fé que não tinha nada a ver com a mitologia pagã, a fé na concepção
virginal, no seio de Maria, d’Aquele que desde sempre era o Verbo Eterno de
Deus.
No século IV, o termo Theotokos é já de uso freqüente no Oriente e no
Ocidente. A piedade e a teologia fazem referência, de modo cada vez mais
freqüente, a esse termo, já entrado no patrimônio de fé da Igreja.
Compreende-se, por isso, o grande movimento de protesto, que se manifestou
no século V, quando Nestório pôs em dúvida a legitimidade do título “Mãe de
Deus”. Ele de fato, propenso a considerar Maria somente como Mãe do homem
Jesus, afirmava que só era doutrinalmente correta a expressão “Mãe de Cristo”.
Nestório era induzido a este erro pela sua dificuldade de admitir a unidade da
pessoa de Cristo, e pela interpretação errônea da distinção entre as duas
naturezas – divina e humana – presentes n’Ele.
O Concílio de Éfeso, no ano 431, condenou as suas teses e, afirmando a
subsistência da natureza divina e da natureza humana na única pessoa do Filho,
proclamou Maria Mãe de Deus.
As dificuldades e as objeções apresentadas por Nestório oferecem-nos agora a
ocasião para algumas reflexões úteis, a fim de compreendermos e interpretarmos
de modo correto esse título.
A expressão Theotokos, que literalmente significa “aquela que gerou Deus”, à
primeira vista pode resultar surpreendente; suscita, com efeito, a questão
sobre como é possível que uma criatura humana gere Deus. A resposta da fé da
Igreja é clara: a maternidade divina de Maria refere-se só a geração humana do
Filho de Deus e não, ao contrário, à sua geração divina. O Filho de Deus foi
desde sempre gerado por Deus Pai e é-Lhe consubstancial. Nesta geração eterna
Maria não desempenha, evidentemente, nenhum papel. O Filho de Deus, porém, há
dois mil anos, assumiu a nossa natureza humana e foi então concebido e dado à
luz Maria.
Proclamando Maria “Mãe de Deus”, a Igreja quer, portanto, afirmar que Ela é
a “Mãe do Verbo encarnado, que é Deus”. Por isso, a sua maternidade não se
refere a toda a Trindade, mas unicamente à segunda Pessoa, ao Filho que, ao
encarnar-se, assumiu dela a natureza humana.
A maternidade é relação entre pessoa e pessoa: uma mãe não é Mãe apenas do
corpo ou da criatura física saída do seu seio, mas da pessoa que ela gera.
Maria, portanto, tendo gerado segundo a natureza humana a pessoa de Jesus, que
é a pessoa divina, é Mãe de Deus.
Ao proclamar Maria “Mãe de Deus”, a Igreja professa com uma única expressão
a sua fé acerca do Filho e da Mãe. Esta união emerge já no Concílio de Éfeso;
com a definição da maternidade divina de Maria, os Padres queriam evidenciar a
sua fé a divindade de Cristo. Não obstante as objeções, antigas e recentes,
acerca da oportunidade de atribuir este título a Maria, os cristãos de todos os
tempos, interpretando corretamente o significado dessa maternidade, tornaram-no
uma expressão privilegiada da sua fé na divindade de Cristo e do seu amor para
com a Virgem.
Na Theotokos a Igreja, por um lado reconhece a garantia da realidade da
Encarnação, porque – como afirma Santo Agostinho – “se a Mãe fosse fictícia
seria fictícia também a carne... fictícia seriam as cicatrizes da ressurreição”
(Tract. In Ev. loannis, 8,6-7). E, por outro, ela contempla com admiração e
celebra com veneração a imensa grandeza conferida a Maria por Aquele que quis
ser seu filho. A expressão “Mãe de Deus” remete ao Verbo de Deus que, na
Encarnação, assumiu a humildade da condição humana, para elevar o homem à
filiação divina. Mas esse título, à luz da dignidade sublime conferida à Virgem
de Nazaré, proclama, também, a nobreza da mulher e sua altíssima vocação. Com
efeito, Deus trata Maria como pessoa livre e responsável, e não realiza a
Encarnação de seu Filho senão depois de ter obtido o seu consentimento.
Seguindo o exemplo dos antigos cristãos do Egito, os fiéis entregam-se
Àquela que, sendo Mãe de Deus, pôde obter do divino Filho as graças da
libertação dos perigos e da salvação eterna.
Extraído do livro A virgem Maria
João Paulo II
João Paulo II
Nossa
Senhora, Mãe de Deus
Resumidamente, podemos dizer
que Nossa Senhora é Mãe de Deus e não da divindade. Ou seja, Ela é Mãe de Deus
por ser Mãe de Nosso Senhor, pois as duas naturezas (a divina e a humana) estão
unidas em Nosso Senhor Jesus Cristo.
A heresia de negar a
maternidade divina de Nossa Senhora é muito anterior aos protestantes. Ela
nasceu com Nestório, então bispo de Constantinopla. Os protestantes retomaram a
heresia que havia sido sepultada pela Igreja de Cristo.
Mas, afinal, por que Nossa
Senhora é Mãe de Deus?
Vamos provar pela razão, pela
Sagrada Escritura e pela Tradição que Nossa Senhora é Mãe de Deus.
Se perguntarmos a alguém se ele
é filho de sua mãe, se esta verdadeiramente for a mãe dele, de certo nos
lançará um olhar de espanto. E teria razão.
O homem, como sabemos, é
composto de corpo e alma, sendo esta a parte principal do seu ser, pois
comunica ao corpo a vida e o movimento.
A nossa mãe terrena, todavia,
não nos comunica a alma, mas apenas o nosso corpo. A alma é criada diretamente
por Deus. A mãe gera apenas a parte material deste composto, que é o seu ser. E
como é que alguém pode, então, afirmar que a pessoa que nos dá à luz é nossa
mãe?
Se fizéssemos essa pergunta a
um protestante sincero e instruído, ele mesmo responderia com tranqüilidade:
"é certo, a minha mãe gera apenas o meu corpo e não a minha alma, mas a
união da alma e do corpo forma este todo que é a minha pessoa; e a minha mãe é
mãe de minha pessoa. Sendo ela mãe de minha pessoa, composta de corpo e alma, é
realmente a minha mãe."
Apliquemos, agora, estas noções
de bom senso ao caso da Maternidade divina de Maria Santíssima.
Há em Jesus Cristo "duas
naturezas": a natureza divina e a natureza humana. Reunida, constituem
elas uma única pessoa, a pessoa de Jesus Cristo.
Nossa Senhora é Mãe deste única
pessoa que possui ao mesmo tempo a natureza divina e a natureza humana, como a
nossa mãe é a mãe de nossa pessoa. Ela deu a Jesus Cristo a natureza humana;
não lhe deu, porém, a natureza divina, que vem unicamente do Padre Eterno.
Maria deu, pois, à Pessoa de
Jesus Cristo a parte inferior - a natureza humana, como a nossa mãe nos deu a
parte inferior de nossa pessoa, o corpo.
Apesar disso, nossa mãe é,
certamente, a mãe da nossa pessoa, e Maria é a Mãe da pessoa de Jesus Cristo.
Notemos que em Jesus Cristo há
uma só pessoa, a pessoa divina, infinita, eterna, a pessoa do Verbo, do Filho
de Deus, em tudo igual ao Padre Eterno e ao Espírito Santo. E Maria Santíssima
é a Mãe desta pessoa divina. Logo, ela é a Mãe de Jesus, a Mãe do Verbo Eterno,
a Mãe do Filho de Deus, a Mãe da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, a Mãe
de Deus, pois tudo é a mesma e única pessoa, nascida do seu seio virginal.
A alma de Jesus Cristo, criada
por Deus, é realmente a alma da pessoa do Filho de Deus. A humanidade de Jesus
Cristo, composta de corpo e alma, é realmente a humanidade do Filho de Deus. E
a Virgem Maria é verdadeiramente a Mãe deste Deus, revestido desta humanidade;
é a Mãe de Deus feito homem.
Ela é a Mãe de Deus - "Maria
de qua natus est Jesus": "Maria de quem nasceu Jesus"
(Mt 1, 16).
Note-se que Ela não é a Mãe da
divindade, como nossa mãe não é mãe de nossa alma; mas é a Mãe da pessoa de
Jesus Cristo, como a nossa mãe é mãe de nossa pessoa.
A pessoa de Nosso Senhor é
divina, é a pessoa do Filho de Deus. Logo, por uma lógica irretorquível, Ela é
a Mãe de Deus.
Agora, qual é o fundo do
problema dessa heresia? Analisemos alguns pormenores e algumas conseqüências de
se negar a maternidade divina de Nossa Senhora.
Não foram os protestantes os
primeiros a rejeitar o título de "Mãe de Deus" à Nossa
Senhora.
Foi Nestório, o indigno
sucessor de S. João Crisóstomo, na sede de Constantinopla, o inventor da
absurda negação.
A subtilidade grega havia
suscitado vários erros a respeito da pessoa de Jesus Cristo!
Sabélio pretendeu aniquilar a
personalidade do Verbo. Ario procurou arrebatar a esta personalidade a áureola
divinal; negaram os docetas a realidade do corpo de Jesus Cristo e os
Apolinaristas, a alma humana de Cristo.
Tudo fora atacado pela heresia,
na pessoa de Nosso Senhor; mas a cada heresia que surgia a Igreja infalível,
sob a direção do Papa de Roma, saia em defesa da única e imperecível verdade:
da pessoa do Verbo divino contra Sabélio; da divindade desta pessoa, contra
Ário; da realidade do corpo humano de Jesus, contra os Apolinaristas.
Bastava apenas um ponto central
para suportar o ataque da parte dos hereges: era a união das duas naturezas,
divina e humana, em Jesus Cristo.
Caberia a Nestório levantar
esta heresia, e aos filhos de Lutero continuarem a defender este erro grotesco.
Foi em 428 que o indigno
Patriarca Nestório começou a pregar que havia em Jesus Cristo duas pessoas: uma
divina, como filho de Deus; outra humana, como filho de Maria.
Por isso conclui o heresiarca,
Maria não pode ser chamada Mãe de Deus, mas simplesmente Mãe de Cristo ou do
homem.
Concebe-se o alcance de uma tal
negação. Se as duas naturezas, a divina e a humana, não são hipostaticamente
unidas em Nosso Senhor Jesus Cristo, de modo a formar uma única pessoa,
desaparece a Encarnação e a Redenção, porquanto o Filho de Deus, não se tendo
revestido de nossa natureza, não pode ser o nosso Redentor. Somente o homem
Jesus sofreu. Ora, o homem, como ser finito, só pode fazer obras finitas. Logo,
a Redenção não é mais de um valor infinito; Jesus Cristo não pode mais ser
adorado, pois é apenas um homem; o Salvador não é mais o Homem-Deus. Tal é o
erro grotesco que Nestório, predecessor de Lutero, não temeu lançar ao mundo.
Ora, os protestantes não querem
levar às últimas conseqüências a negação da maternidade divina de Nossa
Senhora. Admitem em Jesus Cristo duas naturezas e uma pessoa, mas lhes repugna
a união pessoal (hipostática) das duas naturezas na única pessoa de Jesus
Cristo.
Basta um pequeno raciocínio
para reconhecer como necessária a maternidade Divina da Santíssima Virgem:
Nosso Senhor morreu como homem na Cruz (pois Deus não morre), mas nos redimiu
como Deus, pelos seus méritos infinitos. Ora, a natureza humana de Nosso Senhor
e a natureza divina não podem ser separadas, pois a Redenção não existiria se
Nosso Senhor tivesse morrido apenas como homem. Logo, Nossa Senhora, Mãe de
Nosso Senhor, mesmo não sendo mãe da divindade, é Mãe de Deus, pois Nosso
Senhor é Deus. Se negarmos a maternidade de Nossa Senhora, negaremos a redenção
do gênero humano ou cairíamos no absurdo de dizer que Deus é mortal!
Os protestantes, admitindo que
Jesus Cristo nasceu de Maria - e não podem negá-lo, pois está no Evangelho (Mt
1, 16) -, devem admitir: que a pessoa deste Jesus é divina; que Nossa Senhora é
a Mãe desta pessoa; que ela é, portanto, Mãe de Deus! É um dilema sem saída do
ponto de vista racional.
Quando o heresiarca Ário divulgou
o seu erro, negando a divindade da pessoa de Jesus Cristo, a Providência Divina
fez aparecer o intrépido Santo Atanásio para confundi-lo, assim como fez surgir
Santo Agostinho a suplantar o herege Pelágio, e S. Cirilo de Alexandria para
refutar os erros de Nestório, que haviam semeado a perturbação e a indignação
no Oriente.
Em 430, o Papa São Celestino I,
num concílio de Roma, examinou a doutrina de Nestório que lhe fora apresentada
por S. Cirílo e condenou-a como errônea, anti-católica, herética.
S. Cirilo formulou a condenação
em doze proposições, chamadas os doze anátemas, em que resumia toda a doutrina
católica a este respeito.
Pode-se resumi-las em três
pontos:
1) Em Jesus Cristo, o Filho
do homem não é pessoalmente distinto do Filho de Deus;
2) A Virgem Santíssima é
verdadeiramente a Mãe de Deus, por ser a Mãe de Jesus Cristo, que é Deus;
3) Em virtude da união
hipostática, há comunicações de idiomas, isto é: denominações, propriedades e
ações das duas naturezas em Jesus Cristo, que podem ser atribuídas à sua
pessoa, de modo que se pode dizer: Deus morreu por nós, Deus salvou o mundo,
Deus ressuscitou.
Para exterminar completamente o
erro, e restringir a unidade de doutrina ao mundo, o Papa resolveu reunir o
concílio de Éfeso (na Ásia Menor), em 431, convidando todos os bispos do mundo.
Perto de 200 bispos, vindos de
todas as partes do orbe, reuniram-se em Éfeso. S. Cirilo presidiu a assembléia
em nome do Papa. Nestório recusou comparecer perante os bispos reunidos.
Desde a primeira sessão a
heresia foi condenada. Sobre um trono, no centro da assembléia, os bispos
colocaram o santo Evangelho, para representar a assistência de Jesus Cristo,
que prometera estar com a sua Igreja até a consumação dos séculos, espetáculo
santo e imponente que desde então foi adotado em todos os concílios.
Os bispos cercando o Evangelho
e o representante do Papa, pronunciaram unânime e simultaneamente a definição
proclamando que Maria é verdadeiramente Mãe de Deus. Nestório deixou de ser,
desde então, bispo de Constantinopla.
Quando a multidão ansiosa que
rodeava a Igreja de Santa Maria Maior, onde se reunia o concílio, soube da
definição que proclamava Maria "Mãe de Deus", num imenso brado
ecoou a exclamação: "Viva Maria, Mãe de Deus! Foi vencido o inimigo da
Virgem! Viva a grande, a augusta, a gloriosa Mãe de Deus!"
Em memória desta solene
definição, o concílio juntou à saudação angélica estas palavras simples e
expressivas: "Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora
e na hora de nossa morte".
Para iluminar com um raio
divino esta verdade tão bela e fundamental, recorramos à Sagrada Escritura,
mostrando como ali tudo proclama este título da Virgem Imaculada.
Maria é verdadeiramente Mãe de
Deus.
Ela gerou um homem
hipostaticamente unido à divindade; Deus nasceu verdadeiramente dela, revestido
de um corpo mortal, formado do seu virginal e puríssimo sangue.
Embora, no Evangelho, Ela não
seja chamada expressamente "Mãe de Cristo" ou "Mãe de
Deus", esta dignidade deduz-se, com todo o rigor, do texto sagrado.
O Arcanjo Gabriel, dizendo à
Maria: "O santo que há de nascer de ti será chamado Filho de Deus"
(Lc 1, 35), exprime claramente que ela será Mãe de Deus.
O Arcanjo diz que o Santo que
nascerá de Maria será chamado o Filho de Deus. Se o Filho de Maria é o Filho de
Deus, é absolutamente certo que Maria é a Mãe de Deus.
Repleta do Espírito Santo,
Santa Isabel exclama: "Donde me vem a dita que a Mãe de meu Senhor
venha visitar-me?" (Lc 1, 43).
Que quer dizer isso senão que
Maria é a Mãe de Deus? Mãe do Senhor ou "Mãe de Deus" são
expressões idênticas.
S. Paulo diz que Deus enviou
seu Filho, feito da mulher, feito sob a lei (Galat. 4, 4).
O profeta Isaías predisse que a
Virgem conceberia e daria à luz um Filho que seria chamado Emanuel ou Deus
conosco (Is 7, 14). Qual é este Deus? É necessariamente Aquele que, segundo o
testemunho de S. Pedro, não é nem Jeremias, nem Elias, nem qualquer outro
profeta, mas, sim, o Cristo, o Filho de Deus vivo.
É aquele que, conforme a
confissão dos demônios, é: o Santo de Deus.
Tal é o Cristo que Maria deu à
luz.
Ela gerou, pois, um Deus-homem.
Logo, é Mãe de Deus por ser Mãe de um homem que é Deus e que, sendo Deus,
Redimiu o gênero humano.
Tal é a doutrina claramente
expressa no Evangelho, e sempre seguida na Igreja Católica.
Os Santos Padres, desde os
tempos Apostólicos até hoje, foram sempre unânimes a respeito desta questão;
seria uma página sublime se pudéssemos reproduzir as numerosas sentenças que
eles nos legaram.
Citemos pelo menos uns textos
dos principais Apóstolos, tirados de suas "liturgias" e
transmitidas por escritores dos primeiros séculos.
Santo André diz: "Maria
é Mãe de Deus, resplandecente de tanta pureza, e radiante de tanta beleza, que,
abaixo de Deus, é impossível imaginar maior, na terra ou no céu." (Sto
Andreas Apost. in transitu B. V., apud Amad.).
São João diz: "Maria é
verdadeiramente Mãe de Deus, pois concebeu e gerou um verdadeiro Deus, deu à
luz, não um simples homem como as outras mães, mas Deus unido à carne humana."
(S. João Apost. Ibid).
S. Tiago: "Maria é a
Santíssima, a Imaculada, a gloriosíssima Mãe de Deus" (S. Jac. in
Liturgia).
S. Dionísio Areopagita: "Maria
é feita Mãe de Deus, para a salvação dos infelizes." (S. Dion. in
revel. S. Brigit.)
Orígenes (Sec. II) escreve:
"Maria é Mãe de Deus, unigênito do Rei e criador de tudo o que existe"
(Orig. Hom. I, in divers.)
Santo Atanásio diz: "Maria
é Mãe de Deus, completamente intacta e impoluta." (Sto. Ath. Or. in
pur. B.V.).
Santo Efrém: "Maria é
Mãe de Deus sem culpa" (S. Ephre. in Thren. B.V.).
S. Jerônimo: "Maria é
verdadeiramente Mãe de Deus". (S. Jerôn. in Serm. Ass. B. V.).
Santo Agostinho: "Maria é Mãe de Deus, feita pela
mão de Deus". (S. Agost. in orat. ad heres.).
E assim por diante.
Todos os Santos Padres
rivalizaram em amor e veneração, proclamando Maria: Santa e Imaculada Mãe de
Deus.
Terminemos estas citações, que
podíamos prolongar por páginas afora, pela citação do argumento com que S.
Cirilo refutou Nestório:
"Maria Santíssima,
diz o grande polemista, é Mãe de Cristo e Mãe de Deus. A carne de Cristo não
foi primeiro concebida, depois animada, e enfim assumida pelo Verbo; mas no
mesmo momento foi concebida e unida à alma do Verbo. Não houve, pois, intervalo
de tempo entre o instante da Conceição da carne, que permitiria chamar Maria
"Mãe de um homem", e a vinda da majestade divina. No mesmo instante a
carne de Cristo foi concebida e unida à alma e ao Verbo".
Vê-se, através destas citações,
que nenhuma dúvida, nenhuma hesitação existe sobre este ponto no espírito dos
Santos Padres. É uma verdade Evangélica, tradicional, universal, que todos
aceitam e professam.
Maria é Mãe de Deus... é
absolutamente certo. Esta dignidade supera todas as demais dignidades, pois
representa o grau último a que pode ser elevada uma criatura.
Oro, toda dignidade supõe um
direito; e não há direito numa pessoa, sem que haja dever noutra.
Se Deus elevou tão alto a sua
Mãe, é porque Ele quer que ela seja por nós honrada e exaltada.
Não estamos bastante
convencidos desta verdade, porque, comparando Maria Santíssima com as outras
mães, representamo-nos a qualidade de Mãe de Deus sob seu aspecto exterior e
acidental, enquanto na realidade a base de sua excelência ela a possui em seu
"próprio ser moral", que influi em seu "ser físico".
Maria concebeu o Verbo divino
em seu seio, porém esta Conceição foi efeito de uma plenitude de graças e de
uma operação do Espírito Santo em sua alma.
Pode-se dizer que a mãe não se
torna mais recomendável por ter dado à luz um grande homem, pois isto não lhe
traz nenhum aumento de virtude ou de perfeição; mas a dignidade de Mãe de Deus,
em Maria Santíssima, é a obra de sua santificação, da graça que a eleva acima
dos próprios anjos, da graça a que ela foi predestinada, e na qual foi
concebida, para alcançar este fim sublime de ser "Mãe de Deus":
é a sua própria pessoa.
Diante de tal maravilha, única
no mundo e no céu, eu pergunto aos pobres protestantes: não é lógico, não é
necessário, não é imperioso que os homens louvem e exaltem àquela que Deus
louvou e exaltou acima de todas as criaturas?
Se fosse proibido cultuar à
Santíssima Virgem, como querem os protestantes, o primeiro violador foi o
próprio Deus, que mandou saudar à Virgem Maria, pelo arcanjo S. Gabriel: "Ave,
cheia de graça!" (Lc 1, 28).
Santa Isabel: "Bendita
sois vós entre as mulheres" (Lc 1, 42)
Igualmente, a própria Nossa
Senhora nos diz: "Doravante, todas as gerações me chamarão
bem-aventurada..." (Lc 1, 48).
Todos esses atos indicam o
culto à Nossa Senhora, a honra que lhe é devida.
O Arcanjo é culpado, Santa
Isabel é culpada, os evangelistas são culpados, os santos são culpados e 19
séculos de cristianismo também... Só os protestantes não...
Desde os primórdios do Cristianismo,
como já vimos, era comum o culto à Maria Santíssima.
Em 340, S. Atanásio,
resumindo os dizeres de seus antecessores nos primeiros séculos, S.
Justino, S. Irineu, Tertuliano, e Orígenes, exclama: "Todas as
hierarquias do céu vos exaltam, ó Maria, e nós, que somos vossos filhos da
terra, ousamos invocar-vos e dizer-vos: Ó vós, que sois cheia de graça, ó
Maria, rogai por nós!"
Nas catacumbas encontram-se, em
toda parte, imagens e estátuas da Virgem Maria.
O culto de Nossa Senhora não é
um adorno da religião, mas uma peça constitutiva, parte integral, e
indissoluvelmente ligada a todas as verdades e mistérios evangélicos. Querer
isolá-lo do conjunto da doutrina de Jesus Cristo é vibrar golpe mortal na
religião inteira, fazê-la cair, e nada mais compreender da grandeza em que Deus
vem unir-se às criaturas.
Nossa Senhora é Mãe de Deus:
"Maria de qua natus est Jesus!"
Tudo está compendiado nesta
frase. Maria, simples criatura; Jesus, Deus eterno; e a encarnação "de
qua natus est"; afinal, a união indissolúvel que produz o nascimento,
entre o Filho e a Mãe, a grande e incomparável obra-prima de Deus.
Ele pode fazer mundos mais
vastos, um céu mais esplêndido, mas não pode fazer uma Mãe maior que a Mãe de
Deus! (S. Bernardo Spec. B.V. c 10). Aqui Ele se esgotou. É a última palavra de
seu poder e de seu amor!
(Extraído, com alguns pequenos
acréscimos, do Pe. Júlio Maria, "A Mulher Bendita", Editora
"O Lutador", 1949, Manhumirim, MG). O texto sobre a Mãe de Deus foi
basicamente copiado, por se tratar de uma das mais belas páginas de defesa da
maternidade divina de Nossa Senhora que encontrei.